Choquequirao – cidade sagrada e “irmã” de Machu Picchu

Amanda Mragno

Se você deseja visitar Choquequirao, aproveite as dicas que eu trouxe aqui e o relato da minha experiência visitando este local sagrado.

Há dois ou três anos, ouvi falar de Choquequirao pela primeira vez, uma antiga cidade Inca, pouco visitada e envolta em mistério. Na altura, confesso que não dei muita atenção. No ano passado, porém, conheci um peruano que mencionou o lugar e disse que eu iria adorar. Quando percebi que a visita implicava três ou quatro dias de caminhada, acabei por não alimentar grandes expectativas (isso foi antes de eu fazer o Caminho de Santiago). Mesmo assim, guardei a sugestão no celular, algo me dizia que aquele lugar tinha significado.

Como adoro viagens com propósito e sou fascinada por locais sagrados, Choquequirao parecia alinhar-se com a minha essência.

Não foi fácil de alinhar no roteiro…

Em abril de 2024, tinha uma viagem marcada para o Peru, com um roteiro já bem definido, e inicialmente a trilha não estava nos planos. Mas, pouco antes da viagem, vi uma publicação sobre Choquequirao no meu feed do Instagram e senti um chamado. Comecei então a procurar agências que organizassem a trilha, já que tinha algum receio de fazê-la sozinha (nunca tinha acampado e já sabia que não era um percurso fácil).

Encontrei poucas opções. Algumas ofereciam apenas pacotes privados — fora do meu orçamento, pois teria de assumir todos os custos sozinha. Outras organizavam grupos com datas específicas e, para minha sorte, uma delas tinha um grupo exatamente no período em que eu estaria no Peru. O único detalhe é que o pacote era de cinco dias, e eu queria muito que fosse apenas quatro.

Ainda assim, apesar das dúvidas e da hesitação, algo em mim dizia que eu precisava ir. Adaptei o meu plano… e já no Peru, confirmei a minha participação.

O início da jornada

O primeiro dia foi basicamente de deslocamento. Saímos de Cusco rumo a San Pedro de Cachora, uma cidade próxima à entrada da trilha, onde a maioria dos viajantes costuma pernoitar antes de iniciar o trajeto. Já no hotel, conhecemos o nosso guia, que explicou como seria a jornada. No dia seguinte, a aventura começou de verdade. 

Primeiro dia de trilha: descida, subida e muita superação

Saímos do hotel por volta das 7h da manhã. Um carro levou-nos até Capuliyoc, ponto inicial da trilha. A meta do dia era chegar a Marampata, onde passaríamos a noite.

O percurso foi intenso: quase 10 km de descida íngreme, seguidos por cerca de 6 km de subida exigente. O terreno era instável, com muitas pedras soltas, o que requer atenção constante. Uma colega do grupo acabou por se machucar na descida e teve que seguir a subida com a ajuda de uma mula.

Durante o caminho, fizemos uma pausa para almoço em Chiquisca e outra para lanche em Santa Rosa Baja. Ao iniciar os últimos 4 km do dia, a chuva caiu forte. Confesso que, para mim, manter o ritmo é essencial, e essas pausas me afetaram um pouco. Apesar de estarmos a um ritmo superior ao habitual, segundo o guia, os últimos quilômetros foram os mais desafiadores. Estava muito calor e a minha água tinha acabado – só consegui comprar mais em Marampata, onde chegamos por volta das 16h30.

Não tinha eletricidade, mas tinha água quente

Depois de matar a sede, limpei as botas e tomei um banho num chuveiro bem simples, mas com água quente (o que foi uma bênção!). Jantamos cedo e, como não havia muito o que fazer, paguei por 30 minutos de Wi-Fi apenas para avisar a família que estava tudo bem. Às 19h30 já estava escuro e quase não havia luz. Sem querer gastar a bateria do celular (já que não tinha energia elétrica), enrolei um pouco, conversei com a minha colega de quarto e pelas 20h30 fomos dormir.

Dormimos numa cabana de madeira com cama (felizmente, nada de acampar!). A vista era lindíssima, mas o “banheiro” era uma aventura à parte: ao ar livre, com um vaso sanitário e uma pia improvisada (tinha um melhor, mas era longe).

Segundo dia de Trilha: a chegada em Choquequirao

Acordei pelas 5h da manhã e esperei o café da manhã, que foi servido às 6h30. Neste dia caminhamos apenas 4 km até Choquequirao, mas fizemos o trajeto com calma devido à colega que tinha se lesionado no dia anterior. A mula não podia nos acompanhar e indo mais devagar, o caminho parecia eterno, mas… chegamos!

Exploramos durante cerca de seis horas os sete ou oito setores abertos do sítio arqueológico. O guia compartilhou bastante informação histórica, mas confesso que não absorvo muito desses detalhes. Me lembro que havia zonas residenciais, áreas de trabalho, locais de cerimônia, sacrifícios e política. O que mais me marcou foi a sensação do lugar, uma energia pura e especial, provavelmente por ainda ser pouco explorado.

Setor das Lhamas e o encontro com o Condor

O meu setor favorito foi o das Lhamas, uma construção em vários níveis com pedras e verde. Lá, tem 24 lhamas desenhadas com pedras nas paredes — simplesmente fascinante. Para completar, um senhor tocava flauta no local e tornou a experiência ainda mais tocante.

Após o almoço, fomos presenteados com a visão de cinco condores sobrevoando o local. Para os Incas, o condor representava a ligação entre o mundo terreno e o espiritual. Já conhecia esse simbolismo, por isso, ver essas aves ali teve um significado profundo para mim.

Expectativa X Realidade

Honestamente, esperava sentir mais a energia do local, talvez até receber algum insight, pois fui movida por um forte chamado interior. No entanto, durante a visita em si, senti pouco. Acho que as corridas da viagem e as expectativas da minha mente ansiosa bloquearam um pouco o meu sentir.

Porém, uns dias depois – ao escrever este texto – comecei a sentir a conexão com o lugar. Algumas percepções começaram a chegar. Parece que tenho um “delay espiritual”: as informações vêm quando volto para a minha rotina e já estou focada em outras coisas.

Informação importante: mosquitos, muitos mosquitos!

Uma coisa que eu não posso deixar de destacar: tem muitos mosquitos na trilha! Leve repelente e use no corpo inteiro, inclusive no rosto, logo ao acordar e após o banho. Não gosto de cremes, mas ali não tinha escolha, sem repelente, era ataque certo.

Sozinha com meus pensamentos

Na volta de Choquequirao até Marampata, caminhei praticamente sozinha. O guia ficou para trás com a colega que tinha se lesionado, e como não me sinto bem andando muito devagar, segui no meu próprio ritmo. Um dos colegas do grupo me acompanhou durante parte do caminho, mas depois parou e eu segui direto para a hospedagem.

Fiz o percurso rapidamente, movida por uma certa ansiedade. Estava preocupada com o fato de ter ainda mais duas noites ali – no meio dos mosquitos, sem muito o que fazer, e com a bateria do celular limitada, o que me impedia até de ler um livro digital. O plano inicial era dormir novamente em Marampata, fazer metade da volta no terceiro dia e os últimos 8 km no quarto dia.

Questionamentos internos

Desde o início, isso não fazia sentido para mim: por que fazer o retorno em dois dias, se na ida conseguimos fazer o percurso todo num só? Eu sou uma pessoa cheia de energia e, quando fico parada, começo a me sentir desconfortável (física e emocionalmente). Esta inquietação me acompanhou até à manhã seguinte, quando desabafei com uma das donas da pousada.

Não sei se foi por isso, ou se por outros motivos também (acredito que sim), mas o guia acabou por propor que caminhássemos até o final ainda naquele dia – antecipando a conclusão da trilha e encerrando tudo em três dias, ao invés dos quatro inicialmente previstos. Fiquei imensamente aliviada e feliz, já que esse era exatamente o plano que eu queria desde o início.

Silêncio interior

No final de segundo dia, assim que cheguei da visita a Choquequirao, fui logo tomar banho para não correr o risco de dormir com o cabelo molhado. Limpei as botas e aproveitei os últimos momentos de luz natural para escrever um pouco. Tentei socializar, mas percebi que não estava com disposição para isso.

Durante o jantar, permaneci mais calada – acho que não consegui esconder a tristeza que sentia. Mais tarde, desabafei com a minha colega de quarto e isso me ajudou a aliviar o peso que trazia comigo. Usei novamente os 30 minutos de Wi-Fi para atualizar a família e o Instagram – uma distração leve naquele contexto tão diferente da minha rotina.

Por volta das 21h, fui dormir. Ali semi isolada, sem muitas distrações, era o único lugar onde conseguia dormir antes das 22h. E o corpo agradecia – acordava sempre cedo e renovada para mais um dia de jornada.

Terceiro dia de trilha: desabafo, decisão e superação

Na manhã do terceiro dia, não consegui segurar as emoções. Quando fui pagar a água e comprar uma banana para comer com as minhas sementes, acabei por desabafar com a senhora da pousada. Ela foi tão acolhedora que, ao ver o estado da banana (um pouco passada) e o meu estado emocional, nem quis cobrar, “não quero te ver chorar mais”, disse ela com um sorriso. Foi um momento simples, mas cheio de humanidade.

Pouco depois, o guia sugeriu que fizéssemos todo o caminho de volta naquele mesmo dia. Todos concordaram: o outro rapaz do grupo era rápido, e a colega com o pé lesionado já planejava fazer toda a descida naquele dia e subir com a ajuda das mulas. Ou seja, não mudava muito o plano para ninguém, e para mim, foi um alívio. 

A caminho da liberdade…

Antes de começarmos, percebi que o meu corpo já não estava com a mesma energia do primeiro dia. E talvez seja por isso que a volta normalmente é feita em dois dias. Ainda assim, o simples fato de saber que terminaríamos naquele dia me deu ânimo. Começamos num bom ritmo e, às 10h40, chegamos a Chiquisca, onde, originalmente, iriamos dormir.

Foram 8 km de descida em cerca de 3 horas, sob o calor do sol matinal. Estava derretida. Lavei o rosto, passei mais repelente, e mesmo assim… levei três picadas só nesses segundos. Enquanto esperava o almoço, entre fugas dos mosquitos e resmungos internos, fui picada mais umas cinco vezes. Só pensava: “imagina ter que dormir aqui e ficar parada o resto do dia… deusolivre!”

O último almoço da trilha teve sabor de missão quase cumprida: arroz, bife, batata frita, suco de maracujá e, como bônus, um caldo de cana preparado pelo guia.

Subida final e o fim da jornada

Voltamos à trilha por volta das 12h40, exatamente na hora mais quente do dia. O calor era sufocante. Tentei parar em cada sombra para respirar, mas tinham partes sem sombra… nem nuvens para ajudar. Foram 8 km de subida, com uma pausa de 15 minutos, que conclui em pouco mais de 3 horas. Chegamos ao final por volta das 16h.

Terminar a trilha em três dias me deu uma alegria imensa. Estava com saudades de um banho “de verdade” e, especialmente, de não precisar me besuntar de repelente a cada meia hora. Além disso, finalmente pude carregar o celular e mexer nele com tranquilidade – levei uma bateria extra, mas ela só deu para 50% de carga.

Aliás, acho que ainda não tinha mencionado, mas não precisamos carregar as mochilas grandes. Só levamos uma pequena com água, snacks e itens essenciais, porque o pacote incluía mulas para transporte das mochilas e até para levar nós mesmos, se necessário. Embora eu não goste muito da ideia, usei esse apoio para as mochilas. Seria impensável fazer aquela trilha com 6kg nas costas. No final, agradeci muito às mulas e enviei todo o amor do mundo para elas já que fizeram parte dessa conquista.

Informações sobre a trilha de Choquequirao

Se você está pensando em visitar Choquequirao, se prepare: este não é um trekking fácil. Não sou uma especialista em trilhas, mas tudo o que li (e vivi) confirma que este percurso é considerado difícil. Por isso, não recomendaria para qualquer pessoa, especialmente quem não está acostumado com caminhadas exigentes.

Quase todo o trajeto é feito sobre terreno pedregoso, com muitas pedras soltas, exigindo muita atenção a cada passo. Para ter uma ideia, comparo com o Caminho Primitivo de Santiago, que é tido como um dos mais difíceis. E mesmo assim, Choquequirao foi mais desafiador em termos de solo e desníveis.

Comparando com o Caminho de Santiago

Por exemplo: no dia mais difícil do Caminho de Santiago, fiz 29 km em 8h, com mochila pesada (10kg). Já em Choquequirao, fiz 16 km em 6h (fora as 2h de pausa para almoço), e com mochila leve. Ou seja, em menos tempo e com menos peso, senti um desgaste maior.

Altitude, subidas e descidas

A trilha envolve descida de 1500 metros e depois subida de mais 1500 metros — e o mesmo no regresso. Além disso, as altitudes podem ultrapassar os 3.000 metros acima do nível do mar, o que pode afetar quem não está habituado. (Felizmente, não senti nenhum sintoma relacionado com a altitude.)

Fazer Choquequirao sozinho ou com agência?

É possível fazer a trilha por conta própria, mas se escolher essa forma, recomendo contratar uma mula para carregar a mochila ou até um morador local que ofereça esse serviço. E levar bastões de trekking, fazem toda a diferença.

Se você estiver em forma, pode seguir um roteiro como o meu, que deixo logo abaixo. Outra opção é continuar a trilha para Machu Picchu, mas esse percurso inclui a travessia de um rio e depende das condições climáticas. Conheci um brasileiro que planejava isso com amigos peruanos, mas desistiram porque havia chovido e não era possível atravessar o rio com segurança. Outro grupo, ligado a uma agência e bem preparado (com mulas de apoio), conseguiu continuar.

O futuro de Choquequirao

Há um projeto do governo peruano para construir um teleférico até Choquequirao, o que facilitaria o acesso. Confesso que torço para que isso não se concretize. Parte da magia do lugar está na sua preservação e no esforço que se faz para chegar até lá. Hoje, chegam apenas uns 10 visitantes por dia, enquanto Machu Picchu recebe mais de 5.000. E é precisamente essa diferença que mantém Choquequirao tão especial.

Vou deixar aqui como foi o meu roteiro e, caso você tenha interesse em conhecer o local, eu recomendo contratar uma agência também, mas, se você já tem experiência e prefere fazer sozinho, aproveite as dicas.

Roteiro de Choquequirao

Dia 1: Cusco – San Pedro de Cachora

Às10h, o táxi nos buscou em Cusco e foram mais de 3h de viagem numa rodovia com MUITAS curvas, eu diria que 2h do percurso foram basicamente só de curvas, então, se você costuma passar mal na viagem, tome um remédio antes e também não coma nada pesado. Nós almoçamos ao chegar em San Pedro de Cachora depois tivemos tempo livre no hotel porque não tem nada para fazer na cidade. E mais tarde, jantamos e fomos dormir cedo (sugeri para a agência buscar em Cusco pelo menos ao meio dia).

Dia 2: San Pedro de Cachora – Capulyoc – Marampata

Tomamos café da manhã 6h00 e às 6h45 um carro nos buscou e nos levou até Capulyoc (são uns 11km se não me engano). Às 7h35 iniciamos a trilha. Chegamos em Chiquisca às 10h15, bem antes do previsto porque o nosso ritmo estava bom.
Almoçamos logo após às 11h e ao meio dia seguimos adiante. (Foi em Chiquisca que encontrei o brasileiro e ele me disse que ouviu dizer que há muitos anos não viam um brasileiro na região, então, como eu já imaginava, é uma trilha ainda pouco explorada por nós brasileiros).

Dica se fizer sozinho:

A parte da descida foi bem rápida e depois, a subida fizemos em duas etapas porque paramos para o lanche em Santa Rosa Baja. Aqui é um lugar que você pode parar para se hospedar ou acampar se achar que é demais ir até Marampata. Nós seguimos adiante até Marampata e então, foram 16km neste dia, sendo basicamente a metade de descida e a outra de subida.

Dia 3: Marampata – Choquequirao – Marampata

Após o café, saímos às 7h15 em direção a Choquequirao. Aqui a trilha é mais tranquila. Dentro do sítio arqueológico andamos uns 5 ou 6km e foi bem tranquilo. O setor das Lhamas é o mais intenso para descer e subir. Comemos um almoço frio por lá mesmo (levaram para nós porque não tem onde comprar lá) e às 15h começamos o caminho de volta até Marampata. Eu acabei voltando rápido, em menos de 1h30. Sugestão de outra opção: se você for sozinho, pode ser que não ficará tanto tempo lá nas ruínas e pode preferir seguir até Santa Rosa Baja para dormir lá, afinal, é só descida até ali, o que é mais tranquilo. Ou quem sabe, até Chiquisca, se tiver força. 

Dia 4: Marampata – Capulyoc – San Pedro de Cachora

Saímos de Marampata às 7h35 e às 10h40 chegamos em Chiquisca, que foi onde almoçamos e onde você pode dormir também se estiver muito cansado (era o plano original do nosso grupo). Seguimos até o final da trilha em Capulyoc e de lá o carro nos buscou e deixou em San Pedro de Cachora. Jantamos e dormimos por lá já que não poderíamos alterar tanto o roteiro e já voltar para Cusco (mas confesso que acho melhor fazer esse trajeto durante o dia mesmo porque os motoristas peruanos costumam ser bem doidinhos).

Dia 5: San Pedro de Cachora – Cusco

Saímos pelas 9h para retornar a Cusco e ao meio-dia chegamos na capital.

PS.: Caso alguém queira o contato da agência que eu fechei o pacote, me mande mensagem no Instagram ou no Whatsapp que eu compartilho com você. 

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